Reconhecida como uma das principais artistas visuais no exterior, a brasileira Beatriz Milhazes ganha uma espaço único e exclusivo dedicado a sua obra no Festival SESC Rio de Inverno 2012. A exposição Itinerário Gráfico segue até o próximo dia 29, último dia do Festival, no Salão Social I do Palácio Quitandinha, com entrada gratuita. A exposição apresenta nove serigrafias, inéditas no Estado do Rio de Janeiro, realizadas entre 1996 e 2003. Impressas artesanalmente, as obras integram a primeira série de gravuras em grandes dimensões realizada na Durham Press, nos Estados Unidos.
A obra gráfica de Beatriz é estruturada pela intensa convivência de contrários. Uma velada geometria vibra com a surpreendente experiência da cor. Seu repertório inclui questões relativas à abstração geométrica, ao carnaval e ao modernismo, assim como ao concreto e ao neoconcreto brasileiros, à op e pop art. Beatriz pinta flores, arabescos, alvos, listras e quadrados sobre uma superfície de plástico, para depois transferi-los para a tela. Nas colagens, sobrepõe camadas de cor utilizando-se de papéis de bala e sacolas de compras, criando uma harmonia de excessos, cujo impacto pictórico espelha a sua pintura.
A artista trabalha frequentemente com formas circulares, sugerindo deslocamentos ora concêntricos ora expansivos. Na maioria dos trabalhos, prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como películas, e aplicadas na tela por decalque. Aglomera as imagens, preenchendo o fundo e retocando a imagem final. Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão. A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestualidade seja quase anulada. A matéria pictórica obtida por numerosas sobreposições não apresenta, entretanto, nenhuma espessura: os motivos de ornamentação e arabescos são colocados em primeiro plano. O olhar do espectador é levado a percorrer todas as imagens, acompanhando a exuberância gráfica e cromática presente em seus quadros.
Em Cabeça de mulher - primeira serigrafia em grandes dimensões criada por Milhazes - o encontro entre dois sinuosos campos de cor evoca o contorno azul de montanhas contra um céu amarelo intenso. A paisagem é reinventada por sobreposições e transparências, camadas condensadas de um espaço prestes a expandir. Fios de contas criam um motivo solar contraposto a um arabesco azul escuro, que afasta o olhar até a borda e o conduz de volta ao centro. Enquanto a memória de um espaço profundo, conquistando com acúmulo de motivos, emerge na superfície, as oscilações e contrastes da cor desafiam os limites da imagem.
A carioca é pintora, gravadora, ilustradora e professora. Frequentou cursos de arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, e em várias universidades dos Estados Unidos. Sua obra vem se destacando em exposições no exterior. Recentemente expôs na Pinoteca de São Paulo, em 2008, Fundação Cartier Pour L'art Contemporain, Paris, em 2009, e Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes) em Vitória, em 2010.
Beatriz sustenta um recorde de dar inveja a muitos outros artistas plásticos. A tela O Mágico (2001) foi arrematada na Sotheby’s de Nova York por US$ 1,049 milhão ― o valor mais alto já alcançado por um brasileiro vivo num leilão internacional. Quem quiser conferir Itinerário Gráfico, a exposição de Beatriz Milhazes estará aberta até o próximo dia 29 no Salão Social I do Palácio Quitandinha. A visitação acontece de quarta-feira a sábado, das 10h às 18h, e domingos, das 10h às 17h, com entrada franca.
Texto:
Andressa Canejo
Redação Tribuna de Petrópolis