Hemocentro busca conscientizar a sociedade, além de aumentar número de voluntários
No Brasil, mil e trezentos pacientes aguardam por um doador de medula óssea para realizar o transplante, esperança de cura para doenças do sangue como a leucemia. Para aumentar as chances de compatibilidade entre doador e receptor, o HemoRio (Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcante) procura conscientizar a sociedade sobre a importância do ato de solidariedade por meio de serviços como a Coleta Móvel, que cadastra voluntários há 10 anos em todo o Estado do Rio.
De acordo com a assistente social do HemoRio e coordenadora da campanha externa de coleta de medula óssea, Regina Lacerda, a procura pelos “irmãos de sangue” não é fácil, já que a probabilidade de haver compatibilidade entre o voluntário e o paciente é de uma em cem mil. Mas, segundo Regina, a solidariedade está crescendo no Brasil. Com mais de dois milhões de pessoas cadastradas, o país já ocupa a terceira posição, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha, no ranking de possíveis doadores de medula. O Estado do Rio tem mais de 110 mil voluntários.
- Com o trabalho de coleta móvel, cadastramos de 5 a 7 mil voluntários por mês. Além da demanda externa, realizamos um trabalho no salão de doadores do Hemorio, que inclui palestras e captação de doadores. Muitas empresas nos convidam para fazer seminários e cadastrar voluntários. Viajamos muito pelo interior também. Essas ações são essenciais para chamar atenção da população - afirmou Regina Lacerda.
Pessoas saudáveis que tenham entre 18 e 55 anos podem ajudar a aumentar o cadastro dos hemocentros. Os primeiros passos para fazer a diferença são simples: basta preencher um formulário e coletar uma amostra de 5ml de sangue. Os resultados dos exames de histocompatibilidade são armazenados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), que compara as características genéticas do doador e do paciente. Quando há compatibilidade, o voluntário faz testes complementares para realizar a doação.
A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e tem duração de aproximadamente duas horas. Não há risco para a saúde do voluntário, já que a medula óssea, depois de retirada, se recompõe em apenas 15 dias. O procedimento não é feito na medula nervosa, o que exclui o risco para a coluna. São realizadas punções nos ossos posteriores da bacia para que a medula seja aspirada. O paciente recebe a medula sadia como se fosse uma transfusão de sangue.
“Quando acordei da operação, nasci de novo”
Para alguns pacientes, o transplante de medula é a diferença entre a vida e a morte. Foi o caso do músico Paulo Iquiene, que esperou por um doador para ser curado de uma anemia aplástica, doença em que a medula óssea produz em quantidade insuficiente os três diferentes tipos de células sanguíneas: glóbulos vermelhos e brancos e plaquetas. A história de Paulo mudou quando descobriu que seu irmão era compatível.
- Meu quadro era muito ruim, mas nunca perdi as esperanças. Eu queria morrer tentando. Na época, os médicos disseram ao meu pai que eu teria seis meses de vida. O dia em que meu irmão mais velho descobriu que era compatível foi especial. Quando acordei da operação, nasci de novo. Por isso, é importante ser um doador, é um lindo ato - contou o músico, que fez o transplante de medula em 1984, aos 15 anos de idade, e foi um dos primeiros do país.
Solidariedade da população
O motorista Mário Ferreira Barcelos, de 34 anos, é um dos voluntários que fez questão de se cadastrar em uma das campanhas do projeto Coleta Móvel. Mário, que já é doador de sangue do Hemorio, estava com receio de fazer a coleta, mas perdeu o medo assim que os profissionais do hemocentro esclareceram suas dúvidas. Depois que tirou a amostra de sangue, o motorista confessou que estava feliz por contribuir para a causa.
- Existem muitas lendas, principalmente a de que podemos ficar paraplégicos se fizermos a doação. Muitos voluntários desistem na hora da cirurgia. Mas isso é mentira e as pessoas precisam entender que é um procedimento simples. Fiz a minha coleta e espero ser compatível para devolver a saúde e a felicidade a outra pessoa - disse Mário Ferreira.
Para a técnica em eletrônica Nádia Maria da Cunha, ser uma voluntária no banco nacional de medula óssea é uma questão de cidadania e amor ao próximo. Aos 54 anos, ela já conviveu com o sofrimento de doentes que necessitam de transplantes para ter uma vida saudável. Nádia também já é doadora de sangue e está sempre no Instituto Estadual de Hematologia.
- Sou doadora de sangue e agora entrei para a lista de voluntários que podem ser compatíveis com algum paciente que precise de um transplante de medula. Sei o quanto é difícil achar doadores para esses casos e não pude deixar de fazer a minha parte como cidadã. Não tem do que ter medo, porque é tudo muito simples: preenchemos um formulário, tiramos uma pequena quantidade de sangue e rezamos para ser compatível e salvar uma vida - ressaltou.
Onde doar
As doações também podem ser feitas no HemoRio, que funciona todos os dias, das 8h às 17h, na Rua Frei Caneca, no centro do Rio. Para mais informações, o hemocentro disponibiliza o Disque Sangue: 0800-282-0708. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) também faz a coleta de sangue e o cadastramento de doadores de medula óssea. Localizado na Praça Cruz Vermelha, no centro da cidade, o Inca está aberto de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 14h30, e aos sábados, das 8h às 12h. O telefone é (21) 3207-1064.
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